Problema que afeta aproximadamente uma em cada quatro pessoas em todo o mundo e é reconhecida como uma das principais causas de estresse mental.
Podemos ter uma compreensão limitada do sofrimento associado aos transtornos de ansiedade, porque todos nós já experimentamos momentos de ansiedade em diferentes situações. Pode ser nos momentos antes de falar em público, quando o rosto fica pálido e as mãos suam frio; ou durante um voo turbulento, agarrando-se inutilmente ao apoio de braço e pisando em um freio imaginário; ou até mesmo em uma loja movimentada no centro da cidade, onde você sentiu a necessidade inexplicável de escapar. No entanto, para os pacientes que convivem com a ansiedade, essas sensações terríveis são constantes, com uma intensidade debilitante e muitas vezes incompatível com uma vida funcional, e certamente não feliz. Eles vivem 24 horas por dia com uma atitude apreensiva, esperando o pior e preocupados com o futuro. Seus corpos reagem com um estado intenso de alerta, manifestando-se através de taquicardia, palpitações, sudorese, falta de ar, aperto no peito, tontura ou desconforto digestivo. Estima-se que a presença de ansiedade aumenta em seis vezes a probabilidade de buscar atendimento médico. No entanto, quantos de nós realmente têm um transtorno de ansiedade? A resposta está no limite que estabelecemos entre os sintomas “aceitáveis” e o transtorno em si. Estudos mais restritos sugerem que uma em cada 14 pessoas preenche os critérios para ser diagnosticada com um transtorno clinicamente relevante de ansiedade.
No entanto, o problema reside muitas vezes nos métodos de tratamento que utilizamos, podendo ser prejudiciais ou contraproducentes. A seguir, apresentamos seis coisas a evitar que podem ajudar a lidar com a ansiedade:
-Exagero de ansiolótico: O uso excessivo de ansiolíticos, como os benzodiazepínicos (lorazepam, diazepam, bromazepam, etc.), pode levar a problemas de tolerância e dependência. Esses medicamentos atuam no sistema inibitório do GABA no cérebro, proporcionando uma sensação de calma, relaxamento muscular e indução do sono. No entanto, as diretrizes clínicas recomendam limitar o uso desses medicamentos a dois meses, com uma retirada gradual posterior, devido ao risco de tolerância (necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito) e dependência (sintomas de abstinência quando o uso é interrompido).
-Consumo de álcool e drogas: O consumo de álcool e drogas é uma abordagem prejudicial para lidar com a ansiedade. Embora o consumo de bebidas alcoólicas seja normalizado em nossa sociedade, seus efeitos negativos no cérebro são muitas vezes minimizados. A ansiedade pode ser um gatilho para o desenvolvimento de um problema grave de alcoolismo, e cerca de 7% a 10% das pessoas que usam maconha como forma de se acalmar acabam desenvolvendo dependência. No entanto, essas substâncias não podem ser consideradas como solução para o problema da ansiedade.
-Evitar seus problemas e tentar fugir: As fugas constantes são contraproducentes para quem sofre de ansiedade, pois isso apenas aumenta o problema. A esperança reside em enfrentar os medos e se expor gradualmente a eles, especialmente com o auxílio de profissionais, o que aumenta significativamente as chances de melhora. Evitar significa ficar em casa, esperando que a ansiedade desapareça espontaneamente. Ou, se a ansiedade for desencadeada no ambiente de trabalho, recorrer a atestados médicos pelo maior tempo possível, o que torna o retorno difícil. É compreensível que uma pessoa que esteja sofrendo não queira ficar doente, e sua honestidade não deve ser questionada.
No entanto, essa tendência de evitar situações característica dos transtornos de ansiedade muitas vezes se alinha à ineficácia do sistema de saúde, com longas esperas para consultas médicas, consultas de saúde mental marcadas para daqui a três meses, revisões em dois meses e a falta de disponibilidade de psicólogos clínicos. Como resultado, vemos licenças por ansiedade que duram de 6 a 10 meses, com os pacientes apreensivos em relação à possibilidade de reintegração. Na Espanha, os transtornos mentais são a segunda causa mais comum de afastamento temporário por invalidez, afetando cerca de 1 em cada 100 trabalhadores por ano, resultando em um custo de 30 milhões de euros em invalidez temporária. Já foram calculados os benefícios de uma intervenção rápida e de qualidade em saúde mental, que promova a reintegração imediata (no mesmo ou em outro cargo) e minimize a cronificação do quadro?
-Busca de pseudoterapias: Em momentos de desespero, algumas pessoas buscam pseudoterapias como uma alternativa para tratar a ansiedade. Essas abordagens, como pedras quentes, acupuntura ou reiki, podem encontrar pessoas dispostas a ajudar, mas não devem ser consideradas como substitutas para tratamentos cientificamente comprovados, sejam eles farmacológicos ou psicoterapêuticos. Embora essas opções possam parecer atraentes, oferecendo uma abordagem holística (que pode ter algum mérito), seria mais adequado apostar em métodos transparentes e replicáveis que demonstrem eficácia comprovada.
-Procurar um motivo: A ideia de que todo transtorno mental tem uma causa intrapsíquica complexa, que deve ser revelada por meio de uma terapia longa, é difundida pela psicanálise popular e por alguns filmes. Acredita-se que quando o paciente resolve esse quebra-cabeça e tem uma revelação (o chamado insight), os sintomas diminuem. No entanto, na realidade, nem sempre é assim. Alguns pacientes se curam sem saber exatamente por que desenvolveram a ansiedade, enquanto outros compreendem perfeitamente a origem histórica do quadro, mas continuam ansiosos e angustiados devido a uma fisiologia hiperativa, que está constantemente em modo de “luta ou fuga”.
-Tentar diminuir a ansiedade: Scott Stossel, em seu livro “Ansiedade: Medo, esperança e a procura da paz interior”, relata sua experiência pessoal como alguém que sofre de ansiedade e frustrou-se com terapias malsucedidas por décadas. Ele sugere considerar viver com a ansiedade em vez de tentar eliminá-la. Stossel aponta que sempre houve pessoas mais tímidas, cautelosas, sensíveis à rejeição e excessivamente empáticas, características que hoje podem ser consideradas como um temperamento ansioso, mas que também têm seu lado positivo, como empatia e sensibilidade artística. Ele explora a relação entre a natureza nervosa e a sensibilidade, destacando como a vulnerabilidade e a vergonha podem conter um potencial de redenção.